Poemas

 

 O Leão e o Porco

O rei dos animais, o rugidor leão, 
Com o porco engraçou, não sei por que razão. 
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna 
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna): 
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes, 
Poder de despachar os brutos pretendentes, 
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça, 
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça; 
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar, 
E a sua ocupação dormir, comer, fossar. 
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria, 
Soltavam contra ele injúria sobre injúria 
Os outros animais, dizendo-lhe com ira: 
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!» 
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais, 
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais! 
Dos filhos para o génio olhai com madureza; 
Não há poder algum que mude a natureza: 
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos 
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos. 

                                                                                                                                
Bocage, in 'Fábulas'

Conflitos

Vivo em duas mulheres
Uma quer calar
A outra quer falar
Uma tem horário
Outra dicionário
Uma tem dois filhos
Outra um par de brincos
Conflitos!
Uma ganha
Outra gasta
Uma ama
Outra afasta
Uma é chama
A outra é casta
Uma vive
Outra escreve
Em desordem natura

 

                                                          Abigail Brasil

 

 

Vozes das Cores – Amarelas

Sou o poder.

Poder Material,

Poder Verbal.

Poder de Construir,

Destruir, Amar, Odiar,

Conceber, matar,

Querer, desprezar,

Autodilacerar.

Sou a sabedoria,

A inteligência do coração.

Sou a ação

Que se transforma em conceito.

Sou elevação, ascensão,

Aproximação ao que é divino.

Estou na fidelidade,

Na cobiça,

Na traição.

Eu estou em toda a parte,

Estou dentro de você.

                                                                  RICARDO OHARA.